A Terra recebe o Céu, formando Pi, Estagnação








O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward






SEGUNDO VOLUME

Os Hexagramas compostos por K'un, a Terra,
a Mãe, o Receptivo, o Abranger, o Devocional, a Não-Luz, o Vazio
a Planície, o Povo



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada








O Caminho do Céu
de K'un, a Terra, a Mãe, até Ch'ien, o Céu, o Pai
perpassando por todos os Filhos:


Nossa consciência é atada à Terra, a Mãe, K'un, o lugar onde estamos.  Nossa consciência em ampliação faz acontecer a Montanha, o Mestre, Ken, a Quietude, o homem que busca sua realização dentro de seu Caminho da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação até se tornar Homem Sagrado.  A Terra e a Montanha realizam-se, enquanto Vida manifestada e encarnada, através a possibilidade de vida que é doada pela Água, K’an, a Água, que traz consigo a Sabedoria e vai buscando por todos os lugares. A vida manifestada é então não somente vivenciada pela terra, pela rocha e pela água mas também pela madeira, em Sun, o Vento, a Madeira, e esta vegetação é levada adiante pelo vento e eclode a vida, desabrocha a vida através Chen, o Trovão, o Incitar, que acaba trazendo o Fogo, Li, para a terra, ampliando a consciência do Homem que já se encontra entre o Céu e a Terra.  Esta expansão da consciência acontece através seu espelhamento permitido por Tui, O Lago, que espelha Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, o doador da vida infinitizada e iluminada à K'un, a Terra, o Receptivo.










K'un, a Terra,
acolhe Ch'ien, o Céu,
formando
P’i, Estagnação


Janine Milward


Depois de ter se encontrado consigo mesma e depois de ter gerado todos seus filhos e inaugurado suas inter-relações com os mesmos, K'un, A Terra, o Vazio, o Abranger, o Receptivo, A Devoção, A Mãe, no Trigrama da Terra, finalmente encontra-se com Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai, no Trigrama do Céu.

O Sublime Yin encontra-se com o Sublime Yang.  K'un, a Terra, coloca-se em sua abrangência e receptividade plenas, no Trigrama Inferior, para receber Ch'ien, o Céu, o Pai, no Trigrama Superior.  Desse encontro surge o Hexagrama 12. P’i, Estagnação.

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_______       Ch'ien, O Céu,O Criativo

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___  ___      K’un, A Terra, O Vazio, Primordial



Em P’i, Estagnação, encontramos o equilíbrio entre Yin e Yang, o Céu no lugar do céu e a Terra no lugar da Terra.  Esse equilíbrio também aparece em T’ai, Paz, quando a Terra aparece no lugar do céu e o Céu aparece no lugar da Terra.

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 P’i, Estagnação                    T’ai, Paz


Sabemos que o equilíbrio entre a Luz e a Não-Luz, entre Ch'ien e K'un, entre o Céu e a Terra, nos traz os tempos do Equinócio - dentro do aparente andamento do Sol em relação à Terra, nos pontos do sudeste e sudoeste e do nordeste e noroeste.  Foram essas mesmas questões reconhecidas pelos antigos Sábios chineses que lhes trouxeram o conhecimento da mecânica celeste que foi transposta para os mapas do Céu Anterior e do Céu Posterior, do Mundo da Não-Manifestação e do Mundo da Manifestação.

Se bem observarmos, as Linhas Yang, em P’i, Estagnação, estão já no Trigrama do Céu, ou seja, preparando-se todas para deixarem o Hexagrama.  Quando todas as Linhas estiverem deixado o Hexagrama P’i, Estagnação, teremos então, o Hexagrama K'un, O Receptivo, o Vazio.

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K'un, O Receptivo


Quanto temos um Hexagrama com todas suas Linhas Yin - em K'un, o Receptivo, estaremos sob o império da Não-Luz: tempo de inverno.

Sendo assim,  em P’i, Estagnação, encontramos o tempo do Outono, quando a semente precisa ficar sob a terra, descansando em seu longo sono hibernal - para germinar e nascer na primavera seguinte.

As três Linhas Yang do Céu, do Criativo, de Ch'ien, estão no Trigrama do Céu, em seus lugares originais.  As três Linhas Yin da Terra, do Vazio, de K'un, estão no Trigrama da Terra, em seus lugares originais.

Tudo está certo, tudo está em seu lugar...  Por que então P’i, Estagnação?

O Céu está no Céu e a Terra está na Terra.  O Céu ascende cada vez mais, cada vez mais se sutiliza e procura se mesclar ao Mundo da Não-Manifestação e a Terra cada vez mais se assenta, descende, materializa-se, cada vez mais procura se mesclar ao Mundo da Manifestação.  Existe, então, um afastamento entre a Luz e a Não-Luz.  Existe uma verdadeira dissociação entre o Sublime Yang e o Sublime Yin.  Isso traz a Estagnação.

As Linhas Yin estão avançando Hexagrama acima.  Em mais três posições, as Linhas Yin terão inundado todo o Hexagrama em sua Não-Luz.  Será a vitória da Não-Luz, o tempo do real inverno.

Sendo P’i, Estagnação, o outono, os próximos Hexagramas antes do inverno de K'un, o Receptivo, chegar, serão:

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            Kuan,                           Po,
            Contemplação              Desintegração


Kuan, Contemplação - Sun, o Vento, sobre K'un, a Terra - é como uma imagem de um templo.  As duas Linhas Yang - a Quinta e a Sexta - são como o telhado do templo ou a viga mestra  que inter-liga as duas colunas da entrada, o Portal.  Ao mesmo tempo, o Hexagrama Nuclear contido em Kuan, Contemplação, é mesmo Po, Desintegração, o outro Hexagrama designativo do tempo entre o outono e o inverno. 

E também Po, Desintegração, traz a imagem de um templo, sendo o telhado - ou viga-mestra de inter-ligação do portal de entrada -  designado pela Linha do Sábio que já está se retirando do Hexagrama, o último resquício da Luz, antes da chegada da plenitude da Não-Luz.  E em Po, Desintegração, o Hexagrama Nuclear contido já é K'un, o Receptivo, a Não-Luz.

Então, chega o inverno, a plenitude da Não-Luz, em K'un, o Receptivo, o Vazio.  No entanto, Lao Tse, o Mestre do Tao, nos diz em seu Capítulo 40, do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude:

O retorno é o movimento do Caminho

A eterna mutação é a lei fundamental do Mundo da Manifestação.  Apenas dentro do Mundo da Não-Manifestação existe a não-mutação.  Apenas o Tao é imutável.

Sendo assim, no mesmo momento em que K'un, o Receptivo, alcança sua plenitude de Não-Luz, a Mãe retorna, em seu movimento dentro do seu Caminho e em direção à plenitude da Luz.  Assim é a Mandala do Tai Chi, com perfeito equilíbrio entre o Sublime Yin e o Sublime Yang.  Sempre que a Não-Luz, o Sublime Yin, alcança sua plenitude, imediatamente adentra a Luz do Sublime Yang.  É a eterna mutação.

Portanto, quando acontece o Vazio em K'un, o Receptivo, em todas suas Linhas Yin, adentra, anunciando o Retorno da Luz, a Linha Yang ocupando a Primeira Linha do Hexagrama, formando, então, Fu, O Retorno da Luz, Ponto de Transição, Ponto de Mutação.

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Fu, O Retorno da Luz
Trovão no Trigrama da Terra e Receptivo no Trigrama do Céu


Em Fu, o Retorno da Luz, surge a Linha Yang no início do Hexagrama, através de Chen, o Trovão, o Inesperado, o Filho mais Velho, se instalando no Trigrama da Terra e recebendo a Terra no Trigrama do Céu.

A chegada da Linha Yang de Chen, o Trovão, já também anuncia a chegada das demais Linhas Yang, todas trazendo a Luz.

As sementes que estavam adormecidas dentro da terra, são comovidas, energizadas pelo raio intenso de vida que o Trovão, Chen, traz consigo.  O rugir do Trovão sempre anuncia a primavera que não tarda a chegar.

E não podemos nos esquecer que Chen, o Trovão, é o Inesperado.  A vida ressurge a partir de si mesma, naturalmente.

É por isso que Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 25:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Tao
E o Tao se orienta por sua própria natureza


A vida que ressurge após a dormência do inverno, anunciando a primavera, é bem assim como o Tao que se orienta por sua própria natureza.  É o Wei Wu Wei, a ação dentro da não-ação: quando é o momento natural da vida acontecer, ela acontece, simplesmente.

Depois de Fu, o Retorno da Luz, existe outro Hexagrama antes de a primavera realmente se instalar - o que acontece em T’ai, Paz.  Esse novo Hexagrama traz a realidade do avanço das Linhas Yang que voltam a trazer a Luz ao mundo, com sua promessa exercida através as duas Linhas Yang que avançam Hexagrama acima, Linhas Primeira e Segunda.  É Lin, Aproximação, Terra sobre Lago, K'un sobre Tui, Mãe sobre Filha mais Jovem.

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Lin, Aproximação


Finalmente, chega a primavera! É o momento do amor espargido pela Criação: as plantas fazem amor, os bichos fazem amor, os seres todos fazem amor.  Também o Céu e a Terra fazem amor.  Do casamento do Céu e da Terra em momento mais harmonioso, nascem todos os filhos e filhas da Criação.  É o Hexagrama T’ai, Paz, Terra sobre Céu, Céu no Trigrama da Terra e Terra no Trigrama do Céu, é a perfeita união, fusão, entre o Pai e a Mãe, entre o Sublime Yang e o Sublime Yin.

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T’ai, Paz


Assim, vimos que T’ai, Paz, é a primavera.  Enquanto P’i, Estagnação, é o outono.  Ambos nos falam na busca do bom equilíbrio entre o Sublime Yin e o Sublime Yang, em eterna mutação.  Apenas que o equilíbrio encontrado em P’i, Estagnação, serve para indicar o movimento do eterno retorno, da eterna mutação, ou seja, o Sublime Yin precisa encontrar sua plenitude para dar lugar ao Retorno da Luz, plenificada pelo Sublime Yang.  Então, em T’ai, Paz, esse equilíbrio é a promessa do Retorno da Luz, da plenitude do Sublime Yang.  No entanto, novamente a lei do eterno retorno, da eterna mutação se impõe, dando lugar ao Retorno da Não-Luz.

Sabemos que sempre, num Hexagrama, as Linhas vão caminhando de baixo para cima.  Portanto, em T’ai, Paz, temos a certeza de que o Retorno da Luz caminhará para nos trazer a plenitude de Ch'ien, o Criativo, o apogeu do verão.  E em P’i, Estagnação, temos a certeza de que haveremos de adentrar o Vazio, em K'un, o Receptivo, o apogeu do inverno.

Portanto, os Hexagramas que nos apresentam as Quatro Estações do Ano são representados por O Criativo e o Receptivo imajando os Solstícios, momentos em que o andamento do Sol estará em eqüidistância entre o apogeu do verão e o apogeu do inverno.  E o caminho do meio - os Equinócios - acontecerão através de T’ai, Paz, e P’i, Estagnação, imajando a primavera e o outono.

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T’ai,                             Ch'ien                          P’i,                               K'un,
         Paz                              o Criativo                     Estagnação                  o Receptivo
Primavera                    Verão                           Outono                        Inverno
Equinócio                     Solstício                      Equinócio                     Solstício


Todos esses são conceitos da Mecânica Celeste já eram conhecidos pelos Sábios chineses e foram transpassados para o I Ching, o Livro das Mutações.


 


O Julgamento


 O I Ching nos diz, no Julgamento:  Estagnação. Homens maus não favorecem a perseverança do homem superior.  O grande parte, o pequeno se aproxima.

Em Pi, Estagnação, vemos o Trigrama da Terra representado por K'un,  O Receptivo, em todas suas três Linhas Yin.  E vemos o Trigrama do Céu representado por Ch'ien, o Criativo, em todas suas três Linhas Yang.

Quando o I Ching diz: o grande parte - quer significar as três Linhas Yang do Trigrama do Céu que estarão deixando o Hexagrama, dando lugar à plenitude das Linhas Yin, em K'un, o Receptivo, a Mãe, o inverno, a plenitude da Não-Luz.

Quando o I Ching diz: o pequeno se aproxima - quer significar as três Linhas Yin do Trigrama da Terra que estarão avançando através o Hexagrama até torna-lo inteiramente dominado pela Não-Luz.

E por isso mesmo, também o I Ching irá se manifestar em relação a esse avanço da Não-Luz - através da Sombra - que o Mestre denominará de homens maus.

Sabemos que uma das Virtudes da Linha Yin é a perseverança, no sentido de sempre fazer acontecer a forma da Criação onde a Vida deverá ser instaurada - são os empreendimentos atribuídos à Linha Yang.

Em função da multiplicidade de formas da Criação, a Linha Yin possui a duração, ou seja, começa, vive, termina, começa, vive, termina.  A perseverança acontece no sentido de sempre estar renovando esse ciclo, procurando torna-lo infinito e iluminado - assim como a Linha Yang realiza dentro da constância.

Sabemos que uma das Virtudes da Linha Yang é a constância.  Lao Tsé, o Mestre do Tao, nos diz, em seu Capítulo 7:

O céu é constante
A terra é a duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros


Sendo assim, o I Ching nos avisa que o avanço das Linhas Yin podem vir a comprometer a perseverança das mesmas no sentido de sempre atuarem a formação da Criação para poder receber a instauração da vida, através as Linhas Yang.  E também podem vir a comprometer a constância do homem que procura trabalhar sua vida espiritual e realizar seu Caminho, trazendo-lhe a sensação da possibilidade de duração apenas - Linhas Yin - e não da constância.

A duração é a Terra, K'un, o Receptivo, e pressupõe a necessidade da multiplicidade da Criação dentro de sua materialização.  A duração vai determinar nossa Roda da Vida, a Samsara, que nos faz retornar à encarnação um sem-número de vezes, sempre - caso não haja a amplitude da consciência em traduzir a mente em consciência iluminada e infinita.

Quando o homem consegue alcançar sua Iluminação - com mente iluminada e infinita -, ele consegue adentrar  o caminho da constância, ou seja, sua perseverança em termos de seu trilhar o Caminho da Liberação ou Imortalidade, saindo definitivamente, então, da Roda da Vida, da Samsara, alquimizando seu corpo mortal e duradouro em corpo de luz e constante, em vida infinita e iluminada.

Assim, quando o I Ching nos diz: Estagnação.  Homens maus não favorecem a perseverança do homem superior.  O grande parte, o pequeno se aproxima - o Mestre nos avisa sobre nossa consciência a ser ampliada acerca de qual Caminho queremos tomar em nossa vida: o da duração ou o da constância, o do pertencimento à Roda da Vida, da Samsara, infinitamente, da forma como a conhecemos, ou o trilhar dos Caminhos da Iluminação e da Liberação ou Imortalidade.


Lao Tsé, em seu Capítulo 16, nos diz:

Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que provoca o infortúnio
Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.

Sobre a questão do homem poder discernir e realizar suas escolhas em relação ao seu seguimento da duração ou da constância, Lao Tsé nos diz em seu Capítulo 17:

Do supremo, o inferior tem apenas ciência da existência
Do estado que o sucede, intimidade ou admiração
Do estado seguinte, temor ou desprezo
Não havendo suficiente confiança, surge a desconfiança
Quem valoriza a palavra, realiza a obra sem deixar rastros
Assim, o povo achará que surgiu por si, naturalmente.


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Sobre T’ai, Paz, e P’i, Estagnação

Os Julgamentos de ambos os Hexagramas que trazem em si os Trigramas do Céu e da Terra, em posições invertidas - T’ai, Paz, e P’i, Estagnação -, falam da partida de um e da chegada do outro, do grande e do pequeno.  O grande é considerado o Trigrama de Linhas Yang que seguem Hexagrama acima - que é o caso de Tai, Paz -, e o pequeno é considerado o Trigrama de Linhas Yin que seguem Hexagrama acima - que é o caso de Pi, Estagnação. Em T’ai, Paz, o Trigrama Interior traz Ch'ien, o Céu.  Em P’i, Estagnação, o Trigrama Interior traz K'un, A Terra.

Em P’i, Estagnação, a Primeira Linha diz:  Quando se arranca uma folha de grama, junto vem o torrão.  Cada qual de acordo com sua espécie.  A perseverança traz boa fortuna e sucesso.

Essa Primeira Linha é Yin e idealmente incorreta, dando início ao Trigrama da Terra, com K'un, A Terra, o Vazio.

Em T’ai, paz, a Primeira Linha diz:  Quando se arranca uma folha de grama, junto vem o torrão.  Cada qual de acordo com sua espécie.  Empreendimentos trazem boa fortuna.

A Primeira Linha é Yang e idealmente correta, dando início ao Trigrama da Terra, em Ch'ien, o Céu, O Criativo.
Assim, as Primeiras Linhas de P’i, Estagnação e de T’ai, Paz, são semelhantes  em seus textos, porém quando se trata da Linha Yin, o I Ching usa a palavra perseverança e quando se trata da Linha Yang, o I Ching usa a palavra empreendimentos.

A perseverança é uma Linha Yin, vazada:    ___  ___

O empreendimento é uma Linha Yang, contínua:   _______

No entanto, é preciso se compreender que a Perseverança que se lê na Primeira Linha de Estagnação é fusionada com a idéia a continuidade da Linha Yang voltada para sua ação dentro do Trigrama da Terra.  E que o Empreendimento que se lê na Primeira Linha de Paz é fusionado com a idéia de perseverança da Linha Yin voltada para sua ação dentro do Trigrama da Terra.

Em P’i, Estagnação, o Trigrama da Terra com suas Linhas Yin nos fala de perseverança.  O I Ching aconselha ao homem superior que seja perseverante e que aguarde a chegada do Vazio, em K'un , o Receptivo - até que haja o Retorno da Luz, em Fu, O Retorno.
Em T’ai, Paz, o homem superior deve trabalhar industriosamente, deve empreender, até que toda a paz seja alcançada para que se dê início à renovação, ao eterno retorno, à eterna mutação, com a entrada da Não-Luz.

Em P’i, Estagnação, o homem superior recolhe-se a seu valor interno de modo a evitar dificuldad
es.
Em T’ai, Paz, o homem superior divide e completa o curso do céu e da terra, favorece e regula os dons do céu e da terra e desta forma ajuda ao povo.

Podemos então perceber que os ciclos repetidos das estações do ano ora favorecem, ora não favorecem.  Da mesma forma, assim é a vida do homem superior: ora recolhe-se ao seu valor interno, ora apresenta-o ao mundo. Ora existe a receptividade ora existe a criatividade.  Ora existe a interiorização e ora existe a exteriorização.


P’i, Estagnação, e Tai, Paz, na Meditação


Assim como Lao Tse nos diz - O Retorno é o movimento do Caminho -, sempre que alcançamos a plenitude da Luz, do Sublime Yang em Ch'ien, o Criativo, existe o retorno... até que possamos alcançar a plenitude da Não-Luz, do Sublime Yin em K'un, o Receptivo.

Também esses são os passos do trabalho espiritual e também da meditação, do sentar-se no silêncio, no vazio, da interiorização plena.

Quando P’i, Estagnação chega, é o momento difícil, quando o homem superior ainda não se encontra no Vazio - dentro do ato da meditação - ou que ainda não ampliou sua consciência e percebeu seu Caminho.  É uma luta que se trava entre as forças do Mundo da Manifestação e do Mundo da Não-Manifestação, entre o consciente e o inconsciente.

Porém, sabemos que o grande auge da meditação é o momento da plenitude do Vazio, de K'un, o Receptivo - assim como também é o momento em que o homem passa a perceber seu Caminho e a enveredar, conscientemente, em seu trabalho de vida espiritualizada. 

O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota


A partir do encontro com o Vazio, todo o Caminho se coloca diante do homem superior, para ser trilhado - dentro do I Ching do Caminho do Céu - através de 62 Hexagramas até se alcançar a plenitude do Criativo, de Ch'ien, a Iluminação.  É um longo caminho que Lao Tse, o Mestre do Tao, nos diz, em seu Capítulo 64:

Uma longa jornada começa debaixo dos pés


Em P’i, Estagnação, as forças da Não-Luz irão prevalecer, as três Linhas Yin do Trigrama da Terra irão galgar também através o Trigrama do Céu e fazer acontecer K'un, o Receptivo, o Vazio.

Em T’ai, Paz, as forças da Luz prevalecem, as três Linhas Yang do Trigrama da Terra irão galgar também através o Trigrama do Céu e fazer acontecer Ch'ien, o Criativo.

Sendo assim, durante o ato da meditação ou de nosso trabalho espiritual em nosso Caminho, nos colocamos em posição de adentrarmos o outono de nossa mente, deixando que a Não-Luz do Sublime Yin possa nos fazer alcançar o profundo e verdadeiro Vazio que nos é dito por Lao Tsé, em seu Capítulo 4:

O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota
É imensuravelmente profundo e amplo,
como a raiz dos dez mil seres.
Cegando o corte
Desatando o nó
Harmonizando-se à luz
Igualando-se à poeira
Límpido como a existência eterna
não sei de quem sou filho
Venho de antes do Rei Celeste


Ao alcançarmos o Vazio, mergulhamos na verdadeira meditação, no verdadeiro trabalho espiritual, nos encontramos no Caminho.  Isso nos traz Paz, em T’ai, a primavera, o sentimento do equilíbrio perfeito entre a Não-Luz e a Luz.  Finalmente, depois de uma longa jornada como nos diz o Mestre, adentramos a Iluminação, o verão da mente.

A única coisa que levamos de uma encarnação à outra, é a mente.  Nossa meta de encarnação é a de ampliarmos nossa mente de forma a levarmos adiante, em plenitude de seu verão: mente infinita e iluminada.

O trabalho espiritual é exatamente realizado para se cegarem todos os cortes, se desatarem todos os nós, se trazerem a humildade e a compreensão do caminho do meio.  Ao final dessa longa jornada, o homem torna-se Homem Sagrado e torna-se co-criador da Criação, junto ao Tao, ainda além do Mundo da Manifestação, já tendo ultrapassado o Portal e adentrado o Mundo da Não-Manifestação.


 


A Imagem




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P’i, Estagnação


Na Imagem, o I Ching nos diz:  Céu e Terra não se unem:  a imagem da Estagnação.  Assim, o homem superior recolhe-se a seu valor interno de modo a evitar dificuldades.  Ele não permite que o honrem com recompensas.

A não-união entre o Céu e a Terra acontece a partir do fato de que K'un, a Terra, possui movimento descendente e se posiciona no Trigrama da Terra; e de que Ch'ien, o Céu, possui movimento ascendente e se posiciona no Trigrama do Céu. 

Novamente, na Imagem, o I Ching nos diz que o momento da Estagnação é um momento de parada, de busca da interiorização.  E em função do fato de que Ch'ien, o Céu, com suas três Linhas Yang no Trigrama do Céu está se retirando, o I Ching aconselha que o homem superior não seja honrado com recompensas.

 



Trigramas e Hexagrama Nucleares


Quando o I Ching diz, na Imagem que o homem superior deve se recolher ao seu valor interno, é acentuada essa questão através o Hexagrama Nuclear contido dentro de P’i, Estagnação:


  
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_______                                 _______                                
_______                                 _______                                 _______
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                                               ___  ___                                 ___  ___
Sun, o Vento,                          ___  ___                                
A Madeira                                                                             Ken, a Montanha
                                               P’i, Estagnação




O Trigrama Nuclear superior é Sun, o Vento, o Penetrante, a Suavidade, a Madeira, a Arvore.  O Trigrama Nuclear inferior é Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, a Imobilidade.  Vento sobre Montanha formam o Hexagrama Ch'ien, Desenvolvimento, Processo Gradual.

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Ch'ien, Desenvolvimento, Progresso Gradual

A Árvore que cresce ao alto da Montanha tem como Virtude a perseverança.  Chien, Desenvolvimento, Processo Gradual, nos fala da longa jornada através dos longos degraus da Roda da Vida e dos Caminhos da Iluminação e da Liberação ou Imortalidade.

Lao Tsé nos diz, em seu Capítulo 64:

Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda.
Uma torre de nove andares levanta-se de um acúmulo de terra.
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés.



Ainda sobre os dois Trigramas Nucleares, Sun, o Vento, e Ken, a Montanha, o I Ching continua a se referenciar acerca da necessidade de o homem superior se recolher ao seu valor interno.  Isso acontece através da junção de Ken, a Montanha, sobre Sun, o Vento, formando o Hexagrama Ku, Trabalho sobre o que se Deteriorou, Deterioração, Reparação, Restauração, a Busca da Renovação:



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Ku, Deterioração, Trabalho sobre o que se Deteriorou

Lao Tse, sobre esse tema, nos diz em seu Capítulo 36:

Para querer iniciar o enfraquecimento
É necessário consolidar o fortalecimento.
Para querer iniciar o abandono
É necessário consolidar o amparo.

Em P’i, Estagnação, Céu sobre Terra, se revela a necessidade de o homem superior - as três Linhas Yang que se retiram - recolher-se às profundezas de si mesmo, buscando sua luz interior.  É a semente que repousa em sua vida passada e terminada e ao mesmo tempo já traz em si a vida futura - é o outono que prepara toda a natureza para seu recolhimento hibernal, dentro do ventre da Mãe-Terra, até que a primavera retorne.

Ao se retirar, o homem superior prepara-se para novamente penetrar um novo Hexagrama, percorrendo as três Linhas inferiores, formando então T’ai, Paz, empreendendo uma nova vida, uma nova primavera.

Para que tudo isso possa vir a acontecer, é preciso reparar, restaurar, tudo aquilo que foi danificado, deteriorado.  Dessa forma, de alguma maneira, também Ku, Trabalho sobre o que se Deteriorou, também comparece como Hexagrama Nuclear contido, inversamente e subjetivamente, em P’i, Estagnação.


 


As Linhas

Em P’i, Estagnação, Céu sobre Terra, encontraremos as questões voltadas para a movimentação dessas mesmas Linhas, ou seja, a tendência do Trigrama da Terra, em K'un, o Receptivo, com suas três Linhas Yin,  é o movimento descendente - embora suas Linhas sempre estejam conscientes de que estarão adentrando o Hexagrama, como um todo.  A tendência do Trigrama do Céu, em Ch'ien, o Criativo, com suas três Linhas Yang, é o movimento ascendente - embora suas Linhas estejam conscientes de que estarão, cada qual a seu tempo, deixando o Hexagrama para ser  inteiramente ocupado pelas Linhas Yin.

Ao longo das Linhas, de Primeira à Sexta, encontraremos as visões do Sublime Yin e do Sublime Yang e suas formas de realizaram-se dentro da Estagnação:

A Primeira Linha reforça o contexto das Três Linhas Yin do Trigrama da Terra, em K'un, o Receptivo, que revela a necessidade - bem como a coerência - das Linhas Yin em suas entradas ao longo do Hexagrama para ocuparem todas as Seis Linhas do Hexagrama P’i, Estagnação.  Ao mesmo tempo, por agirem em conjunto, essas mesmas três Linhas Yin têm a consciência de que suas movimentações são atuadas pelo movimento descendente.

A Segunda Linha atua enquanto Co-Governante do Hexagrama - Linha Yin em lugar idealmente correto e fazendo boa correspondência com a Linha Yang no quinto lugar também idealmente correto.  Por tudo isso, a Segunda Linha possui um comportamento extremamente adequado dentro da Estagnação - mesmo porque esta Linha usufrui vitoriosamente desta condição.

A Terceira Linha traz o conjunto das Três Linhas Yin para ingressar no Trigrama do Céu. Porém, em sendo idealmente incorreta e por possuir movimentação descendente acirrada pelas duas Linhas anteriores, não consegue realizar sua intenção mas abre o caminho - que é inexorável - para o preenchimento das Linhas Yin também no Trigrama do Céu.

A Quarta Linha consegue superar uma série de vicissitudes acarretadas pela Terceira Linha e pelo conjunto das Três Linhas Yin do Trigrama da Terra.  E realiza-se desta forma também pelo fato de estar muito unida às intenções da Quinta Linha, que é idealmente correta e que infla a Quarta Linha - idealmente incorreta - de receptividade à ação intensa realizada pela Linha à qual é subordinada.

A Quinta Linha é idealmente correta e é considerada a Linha Governante do Hexagrama P’i, Estagnação, fazendo boa correspondência com a Linha também idealmente correta no lugar da Segunda Linha: o Homem da Terra e o Homem do Céu estão idealmente corretos em seus lugares e por esta razão, podem bem realizaram-se, cada qual à sua maneira e dentro de suas próprias intenções.  A Quinta Linha, Yang e fazendo conjunto às duas outras Linhas Yang do Trigrama do Céu, tem a consciência que deverá deixar o Hexagrama para ser inteiramente ocupado pelas Linhas Yin mas realiza esta questão de forma inteiramente apropriada e assim, influi o comportamento das Linhas Quarta e Sexta, certamente, dentro dessa mesma premissa.  Mesmo assim, mesmo guiando as demais Linhas Yang, a Quinta Linha ainda possui um tom de incerteza acerca a entrada das Linhas Yin também no Hexagrama do Céu, expulsando todas as Linhas Yang.

A Sexta Linha faz parte do conjunto das Linhas Yang do Trigrama do Céu e acolhe a união do Ministro com o Rei - as Linhas Quarta e Quinta - e realiza o sentimento de vitória no sentido de que, ao terminar a Estagnação (premissa da Sexta Linha), tudo muda, ou seja, as condições se invertem.  Sabe-se que o Hexagrama Estagnação representa o Outono, o anúncio da Não-Luz que traz o Inverno e a dormência da natureza.  Sabe-se que o Hexagrama Paz representa a Primavera, a chegada da Luz que traz o Verão e a frutificação da natureza.  É a Sexta Linha que realiza esta sabedoria: tudo muda, sob o Tao da Criação.

 


Linha a Linha


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___ ___       A Primeira Linha

A Primeira Linha do Trigrama da Terra é uma Linha Yin e idealmente incorreta.  Ela faz parte do conjunto de três Linhas Yin de K'un, A Terra, a Mãe, o Devocional, o Vazio, o Receptivo.

A Primeira Linha do Trigrama Interior, Trigrama da Terra, traz junto consigo as duas Linhas seguintes, todas Linhas Yin.

Como a Terra possui um movimento descendente, essas três Linhas são como um torrão de grama que arraiga-se à terra.

Por isso, o I Ching diz:  Quando se arranca uma folha de grama, junto vem o torrão.

No entanto, mesmo sendo o Trigrama Interior composto de três Linhas Yin e vazadas, cada qual possui sua própria individualidade e ocupa lugares diferenciados.  A Primeira Linha é Yin e idealmente incorreta, no lugar da Terra no Trigrama da Terra; a Segunda Linha é Yin e idealmente correta, a Linha do meio, do homem, no Trigrama da Terra; e a Terceira Linha é Yin e idealmente incorreta, a Linha da fronteira entre o Trigrama Interior e o Trigrama Exterior, a Linha do Céu no Trigrama da Terra.

Em função dessas características individualizantes dentro das Linhas Yin, ainda para a Primeira Linha, o I Ching diz:  Cada qual de acordo com sua espécie.

E porque sempre está implícita a eterna mutação e o fato de que ainda ascenderá através  do Hexagrama P’i, Estagnação, trazendo as Linhas Yang para formarem T’ai, Paz, o I Ching aconselha: A perseverança traz boa fortuna e sucesso.

Ao mesmo tempo, sabemos que K'un, a Terra, dentro do mapa do Mundo da Manifestação, do Céu Posterior, ocupa o lugar do sudoeste, uma ponte entre o sul - o lugar do verão, da plenitude da vida e de seu vigor de trabalho - e o oeste - lugar de retirada, de aposentadoria.

Portanto, também o I Ching traz a implicação da necessidade de o homem saber sobre seu momento certo de parar, de se recolher, de se retirar.

Se pensarmos nos conselhos todos para essa Linha, poderemos perceber, então, que o I Ching nos avisa para chegarmos a um bom consenso de retirada não apenas solitária, porém coletiva, de alguma situação, de forma a melhor preservar a integridade das várias personalidades envolvidas... e quem sabe, aguardar por melhores tempos.




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___ ___       A Segunda Linha
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A Segunda Linha é Yin e idealmente correta e está em correspondência com a Quinta Linha, que é Yang e também idealmente correta, a Linha do Rei.  A Segunda Linha atua enquanto Co-Governante do Hexagrama - Linha Yin em lugar idealmente correto e fazendo boa correspondência com a Linha Yang no quinto lugar também idealmente correto.  Por tudo isso, a Segunda Linha possui um comportamento extremamente adequado dentro da Estagnação - mesmo porque esta Linha usufrui vitoriosamente desta condição.

A Segunda Linha fala do Povo, em K'un, a Terra, é o lugar do Homem no Trigrama da Terra, enquanto a Quinta Linha, representando o Rei, fala da nobreza.

Em função dessas questões, dentro dessa Linha se vê duas formas de posicionamento do homem: uma delas é a da adulação de pessoas do povo em relação à pessoas da nobreza.  Tudo isso pode acontecer em função da Terra, K'un, se tornar por demais Devocional e submissa ao Criativo, que se encontra no Trigrama Externo.

No entanto, também a Segunda Linha vai apresentar o homem superior que não se deixa confundir com as relações entre povo e nobreza.  Ele toma para si as Virtudes da Terra, que são: tolerância e perseverança.

Por tudo isso, o I Ching diz:  Eles suportam e toleram. Isso significa boa fortuna para os homens inferiores.  A estagnação ajuda o grande homem a obter sucesso.

A Segunda Linha anuncia o discípulo que segue seu mestre em sua jornada rumo ao Tao, o Caminho.  O discípulo deve ser tolerante, perseverante, obediente, devocional - Virtudes de K'un, a Terra.  A Segunda Linha é a Linha do meio, aquela que indica a maneira correta de vivenciar o Te, a Virtude, enquanto caminha seu Caminho, o Tao.

Vemos então que o Trigrama da Terra representa o discípulo enquanto o Trigrama do Céu representa o mestre, em P’i, a Estagnação.




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___ ___       A Terceira Linha
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A Terceira Linha é Yin e idealmente incorreta e se sente fraca na posição de transição entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu.

Também é a Terceira Linha que traz clareza à imagem das Linhas Yin que formam K'un, a Terra.  Trazendo nitidez à essa imagem, ela designa P’i, Estagnação, dando finalização ao Trigrama da Terra e dando início ao Trigrama do Céu.

Nesse sentido, a proximidade da Linha Yin da Terceira posição, em sua fragilidade, demonstra uma receptividade e abrangência para abrir-se às Linhas Yang que predominam no Trigrama do Céu.

No entanto, quando a Terceira Linha se abre para a receptividade e abrangência das Linhas Yang do Trigrama do Céu, ela descobre-se cada vez mais afastada! A Terceira Linha volta-se para a magnetização das outras duas Linhas Yin anteriores que possuem movimentos descendentes.
E por isso tudo, o I Ching diz:  Eles sentem vergonha.

O Trigrama do Céu movimenta-se de forma ascensional enquanto o Trigrama da Terra movimenta-se de forma descensional.  Assim são K'un, a Terra, e Ch'ien, o Céu.  Não havendo um encontro no meio do caminho, o que então existe?

Existe P’i, Estagnação.

Entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu existe um vazio.  É nesse vazio que tudo se recolhe no outono, em P’i, Estagnação.

Porém, o Mestre Lao Tsé nos diz que o Vazio é a verdadeira razão de tudo ser, em seu Capítulo 11.

Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda.
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo.

Portanto, apesar do sentimento de intensa humilhação que repousa na Terceira Linha também espelhando as duas Linhas anteriores, existe uma perspectiva de melhoria da situação.  O vazio entre o Trigrama da Terra e o Trigrama do Céu, ao ser conscientizado, promove uma visão de que nada fica estagnado para sempre, que tudo dentro do Mundo-da-Manifestação está em constante mutação.




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_______      A Quarta Linha
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A Quarta Linha consegue superar uma série de vicissitudes acarretadas pela Terceira Linha e pelo conjunto das Três Linhas Yin do Trigrama da Terra.  E realiza-se desta forma também pelo fato de estar muito unida às intenções da Quinta Linha, que é idealmente correta e que infla a Quarta Linha - idealmente incorreta - de receptividade à ação intensa realizada pela Linha à qual é subordinada.

Portanto, ao atuar como Linha Primeira do Trigrama do Céu na posição da Terra, ela corresponde ao Ministro.  O Ministro sempre está sob as ordens do Rei, a Quinta Linha.  Em sendo uma Linha Yang, ela possui ação, empreende, porém sem culpa.

Em relação à Quarta Linha, o I Ching diz:  Aquele que age segundo a ordem do mais alto permanece sem culpa.

O Trigrama do Céu é todo composto por Linhas Yang, formando Ch'ien, o Céu.  Sendo as Linhas Yang designadoras de determinação, empreendimentos, força - todas Virtudes de Ch'ien, o Criativo - já na Quarta Linha se vêem os indícios da superação da Estagnação.  As Linhas contínuas empreendem, trabalham, confrontam, ascendem.  Existe movimento em ascensão, enquanto no Trigrama da Terra o movimento é o de descenso.


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_______      A Quinta Linha
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A Quinta Linha é idealmente correta e é considerada a Linha Governante do Hexagrama P’i, Estagnação, fazendo boa correspondência com a Linha também idealmente correta no lugar da Segunda Linha: o Homem da Terra e o Homem do Céu estão idealmente corretos em seus lugares e por esta razão, podem bem realizaram-se, cada qual à sua maneira e dentro de suas próprias intenções. 
A Quinta Linha é a Linha do Rei, da consciência iluminada, a governante do Hexagrama P’i, Estagnação.

O I Ching diz:  A Estagnação aproxima-se do fim.  Boa fortuna para o grande homem.

E continua, como se repetisse a pergunta que a Quinta Linha faz: E se fracassasse, e se  fracassasse?

Finalmente, o I Ching traz seu conselho:  Deste modo, ele se amarra a um feixe de brotos de amoreira.

A Quinta Linha, sendo a posição da consciência iluminada do homem superior, sabe da importância do movimento, dos empreendimentos para que a Estagnação chegue a um fim.  Ou seja, se a Estagnação, P’i, traz a imagem do outono, a Quinta Linha sabe, tem consciência, de que esse outono um dia chegará ao fim, adentrará o inverno, porém um dia, novamente haverá o Retorno da Luz, trazendo a primavera, os novos começos dos novos ciclos.  Essa primavera é imajada através o Hexagrama T’ai, Paz, que é composto pela inversão das Linhas de P’i, Estagnação.

Da mesma forma, a Quinta Linha também sabe, tem consciência, que chegará um momento que em T’ai, Paz, primavera que se abre para o verão da confirmação da vida, a Luz haverá de dar lugar à Não-Luz - assim como tudo na Criação está em constante mutação.

É por isso que existe o conselho do I Ching, referente ao receio do homem superior de fracassar (que o Mestre entende como uma preocupação positiva), de se amarrar a um feixe de brotos de amoreira.  Essa é uma imagem: a amoreira é uma árvore que se cortada em seu caule, faz logo nascer muitos brotos saudáveis, fortes, belos, prontos para novamente crescerem. 

A consciência infinita e iluminada do homem superior deve não somente pôr um fim à estagnação como deve se precaver em relação à verdade do ciclo de mutações.  O homem superior leva em conta que tudo na Criação sempre está em eterna mutação.

O retorno é o movimento do Caminho

A Quinta Linha, Yang e fazendo conjunto às duas outras Linhas Yang do Trigrama do Céu, tem a consciência que deverá deixar o Hexagrama para ser inteiramente ocupado pelas Linhas Yin mas realiza esta questão de forma inteiramente apropriada e assim, influi o comportamento das Linhas Quarta e Sexta, certamente, dentro dessa mesma premissa.  Mesmo assim, mesmo guiando as demais Linhas Yang, a Quinta Linha ainda possui um tom de incerteza acerca a entrada das Linhas Yin também no Hexagrama do Céu, expulsando todas as Linhas Yang.




_______      A Sexta Linha
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A Sexta Linha faz parte do conjunto das Linhas Yang do Trigrama do Céu e acolhe a união do Ministro com o Rei - as Linhas Quarta e Quinta - e realiza o sentimento de vitória no sentido de que, ao terminar a Estagnação (premissa da Sexta Linha), tudo muda, ou seja, as condições se invertem.  Sabe-se que o Hexagrama Estagnação representa o Outono, o anúncio da Não-Luz que traz o Inverno e a dormência da natureza.  Sabe-se que o Hexagrama Paz representa a Primavera, a chegada da Luz que traz o Verão e a frutificação da natureza.  É a Sexta Linha que realiza esta sabedoria: tudo muda, sob o Tao da Criação.

A Sexta Linha é Yang e idealmente incorreta.  É a Linha do Sábio, que vem junto ao Rei e ao Ministro, mas que também já está prestes a deixar o Hexagrama.

Sendo Yang - por pertencer a Ch'ien, o Criativo -, ela traz consigo toda a força das duas Linhas Yang anteriores e realiza o término da Estagnação.  Sua força é tanta - por ser Yang e sábia e por estar sendo alçada, catapultada, pelas Linhas do Ministro e do Rei - que consegue dar início à inversão da Estagnação, P’i, fazendo surgir T’ai, Paz.

Por tudo isso, o I Ching diz:  A estagnação termina.  Primeiro estagnação, depois boa fortuna.

Porém, é sabido que a estagnação não termina por si mesma: as Linhas Yang efetivamente empreendem uma movimentação tal que conseguem ser bem-sucedidas nessa empreitada, depois de muito esforço.

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O trabalho espiritual pressupõe muito esforço.  Em P’i, Estagnação, vemos que o mestre imajado pelo Trigrama do Céu, em Ch'ien, o Criativo, em todas suas Linhas Yang, consegue trazer seu discípulo para a boa realização de seu Caminho em direção ao seu Tao - sendo o discípulo imajado pelo Trigrama da Terra, em K'un, O Devocional, em todas suas Linhas Yin.  No entanto, a força do mestre é como se fosse uma ponte, estando o mestre já do outro lado, já iluminado e já se abrindo para sua liberação.  Cabe ao discípulo caminhar por si mesmo através dessa ponte, superando P’i, a Estagnação e adentrando T’ai, Paz.

Lao Tsé, o Mestre do Tao, nos diz em seu Capítulo 14:

Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente.
Quem conhece o Princípio Ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho.


COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward


 


Síntese de P’i, Estagnação


A Terra recebe o Céu,
formando Pi, Estagnação


Finalmente, em seu oitavo e último encontro enquanto sustentadora do Hexagrama, K'un, A Terra, A Mãe, O Vazio, recebe Ch’ien, O Céu, O Pai, O Criativo, e ambos formam o Hexagrama P’i, Estagnação

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_______          Trigrama do Céu em Ch'ien, O Céu
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___ ___           Trigrama da Terra em K'un, A Terra


Tudo está certo.... está? Aparentemente sim, porque o Céu está sobre a Terra, e a Terra está sustentando o Céu... Porém o nome do Hexagrama é Estagnação.... e por que estagnação se tudo aparentemente está certo?

Bem, se tudo realmente estivesse certo, não poderia haver a continuidade do Caminho do Céu, não é verdade? Será então preciso que todos os Filhos do Céu e da Terra também façam seus encontros com a Mãe e o Pai e entre si... para que então, finalmente, chegue a vez de Ch'ien, O Céu, se manifestar em seus encontros com a Terra e seus Filhos e ulteriormente, consigo mesmo.

Quando chegar o momento em que Ch'ien, O Céu, encontrar com K'un, A Terra, ambos formarão o Hexagrama Tai, Paz... simbolizando o longo caminho entre a escuridão da crueza da matéria e a iluminação da consciência do espírito.

Em P’i, Estagnação, vemos que existe o adentramento das Linhas Yin através o Hexagrama: é o anúncio do Outono que trará o Inverno, a plenitude da Não-Luz das Linhas Yin, em K'un, o Receptivo Repetido.  No entanto, vemos que em Tai, Paz, existe o adentramento das Linhas Yang através o Hexagrama: é o anúncio da Primavera que trará o Verão, a plenitude da Luz das Linhas Yang, em Ch'ien, o Criativo.

Portanto, em P’i, Estagnação, existe um movimento que leva à Interiorização enquanto que, em Tai, Paz, o movimento é ao inverso, leva à Exteriorização.

Podemos perceber que existem duas Linhas importantes no Hexagrama P’i, Estagnação: elas são a Segunda Linha, o Homem da Terra, no Trigrama da Terra, em K'un, o Receptivo; e a Quinta Linha, o Homem do Céu, no Trigrama do Céu, em Ch'ien, o Criativo.  No entanto, a Segunda Linha, Yin, faz parte da Estagnação que se aproxima e a Quinta Linha, Yang, ainda faz parte da plenitude da Luz que se sustenta.  Ou seja, o Homem da Terra já está em seu movimento de interiorização - porque o Trigrama da Terra tem movimento descendente e o Homem do Céu ainda se encontra em seu movimento de exteriorização - porque o Trigrama do Céu tem movimento ascendente.

Por todas essas razões, a Segunda Linha é Co-Governante e a Quinta Linha é Governante do Hexagrama: Homem da Terra e Homem do Céu atuam enquanto Linhas imperativas em P’i, Estagnação, cada qual dentro de sua própria Virtude.

E essas Virtudes intrínsecas de Ch'ien - o movimento ascendente e a exteriorização - e de K'un, - o movimento descendente e a interiorização - são também confirmadas através os Trigramas Nucleares: Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, a Penetração, é o Trigrama Nuclear Superior e ratifica a movimentação ascendente e a exteriorização de Ch'ien, o Céu, no Trigrama do Céu no Hexagrama Original, em P’i, Estagnação.  E Ken, a Montanha, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre, ratifica a movimentação descendente e a interiorização de K'un, a Terra, no Trigrama da Terra.

O Hexagrama Nuclear inserido é, então, Ch'ien, Sun sobre Ken, Vento e a Madeira sobre a Montanha, o Processo Gradual, o Desenvolvimento: em seu tempo, o Inverno chegará; em seu Tempo, o Verão chegará.


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E assim, todos os Encontros ou Hexagramas passam a se suceder tecendo, em Trama e Urdimento, em Linhas Yang e Yin, O Caminho do Céu...

COM UM ABRAÇO ESTRELADO,
Janine Milward


 





Tao Te Ching , O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
Traduzido por Wu Jyh Cherng – Editora Ursa Maior

O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto

Editora Pensamento – São Paulo, Brasil
I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng

Editora Objetiva - Rio, Brasil







O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada